terça-feira, 19 de agosto de 2008

OURO BRASILEIRO COM RAÇA E CLASSE

Por Rebecca Santoro

16 de agosto de 2008


Ele é brasileiro, tem 21 anos, e foi o primeiro nadador brasileiro a conquistar uma medalha de ouro em Jogos Olímpicos. César Augusto Cielo Filho venceu a prova dos 50m nado livre, quebrando o recorde olímpico com o tempo de 21s30. A prova foi emocionante, assim como, em especial para nós brasileiros, a vitória. Mas, o que mais impressionou a todos nós por aqui e à torcida presente ao Cubo D’água foram a emoção externada por Cielo e seu amor à família e ao Brasil.


Eu havia decidido que não escreveria sobre os jogos olímpicos, assim como muitos o fizeram, pela simples razão de a China ser um dos ícones do neo-comunismo em franca expansão. Não vou entrar nesse mérito aqui. O fato é que não pude resistir a traçar umas linhas sobre esse rapaz e suas conquistas.


César Cielo nasceu pré-maturo, de 7 meses, e decidiu se dedicar à natação, aos oito anos, pelas mãos de sua mãe, que cursara Educação Física. Ela o levou para o clube Pinheiros, em São Paulo, em 2003, onde foi treinar ao lado do famoso nadador brasileiro Gustavo Borges. De ídolo, Gustavo passou a ser conselheiro do novato. Foi ele quem, anos depois, o apresentou à universidade norte-americana de Auburn, nos Estados Unidos, recomendando-lhe ao técnico David Marsh. Além de nadar, Cielo estuda Comércio Exterior naquela universidade e é o aluno estrangeiro de melhor desempenho. Antes da medalha de ouro e do bronze conquistados na Olimpíada de Pequim, Cielo se tornou mais conhecido do público brasileiro após os Jogos Pan-Americanos do Rio-2007, quando levou três ouros e uma prata.


Por que resolvi falar de Cielo? Por que ele é o representante típico da classe-média tradicional brasileira – essa que o lulismo tanto massacra, com palavras e atos. O garoto é inteligente, estudioso, aplicado e esforçado – tudo o que o lulismo abomina, tendo à frente o próprio presidente Lula que, em seus discursos, tanto se esmera em debochar dos estudiosos e em jogar pobres contra ricos, índios e negros contra brancos e ainda ‘os que têm’ contra ‘os que não têm’ (seja lá o que for). É claro que sua excelência não menciona (assim como a grande mídia também o evita fazer) que toda a sua família - netos, principalmente - faz e tem tudo aquilo que fazia e tinha a velha e tradiconal classe média, que em nada devia aos modelos de educação também cultivados pelos mais abastados. Entretanto, já vi reportagens com o balé de uma neta, com bons colégios e direito à festa de aniversário temática naquelas caríssimas casas de festa.


Voltando ao César Cielo. Como se não bastassem todas essas qualidade, o rapaz é um belo exemplar masculino brasileiro, de Santa Bárbara d'Oeste (estado de São Paulo - Região Metropolitana de Campinas), com seus 1,96m de altura, cerca de 83 kg, cabelos loiros e olhos claros – é o protótipo do que o lulismo invejoso qualificaria de ‘boyzinho-filhinho-de-papai’. Uma distorção, é claro, e nesse caso, principalmente, uma grande mentira. Cielo é modelo vivo da 'meritocracia' em pelo seu estado de manifestação comprobatória. Ele nunca precisou que mamãe e papai se tornassem 'importantes' para que pudesse cultivar seus talentos. Nem tampouco que isso acontecesse, para que se transformasse, por exemplo, de biólogo mal sucedido, digamos, em empresário de games e mega investidor multimilionário. Ou seja, para que mudasse da água para o vinho. Não. Cielo teve tudo de que se precisa para correr atrás de um sonho: família estruturada, disposição para sacrifícios e muita obstinação. Chegou lá.


O garoto poderia até ter pedido cidadania/naturalização norte-americana para ir para às Olimpíadas e outras competições internacionais, como muitos atletas fazem, em melhores condições e mais bem acompanhado em termos de chance de medalhas. Ele tem todas as condições para isso – o tipo de cidadão que um país como os EUA faz questão de acolher: tem bom caráter, méritos intelectuais, inegáveis qualidades físicas e é um excelente atleta. O garoto poderia ter feito como uns e outros brasileiros inúteis que andam por aí, que pedem cidadania dupla, por exemplo. Não fez nada disso. Em todas as competições internacionais, lá está ele, competindo pelo Brasil – terra de seu berço, de seus familiares, de seus amigos.


Em muito me lembraram, esta vitória de Cielo, as conquistadas por negros norte-americanos nas Olimpíadas de Berlim, quando Hitler era o Füher. Apesar de se saber que há outras duas justificativas para que Hitler não tivesse cumprimentado e nem assistido às premiações daqueles atletas (leia aqui: http://www.duplipensar.net/dossies/2004-Q3/olimpiadas-1936-hitler.html), em vista do que vejo, hoje, acontecer no Brasil, algo me faz tender a acreditar que realmente o Füher tenha deixado o estádio, por raiva mesmo, de ver sua teoria de puritanismo ariano superior ser desmentida daquele jeito, com fatos, na frente de milhares de pessoas. Cada vez encontro mais coincidências entre a Alemanha nazista e o que se passa hoje por aqui.


Estão vendo como é que funcionam as coisas?... A gente começa a ver, em tudo, razões de classe. Foi inevitável fazer esse encadeamento de idéias, de percepções. Um garoto que deve tudo o que é a seus próprios méritos e à ajuda de seus familiares e amigos (e, de quebra, aos recursos encontrados num país estrangeiro, para treinar) demonstra todo o amor que os brasileiros cultivam por esta terra e por nossa gente. Parte de toda aquela emoção demonstrada por Cielo, com certeza, se deve a aquele ‘filmezinho’ de nossa vida que passa em nossa mente, em momentos de grande tensão ou de grandes alegrias. No que passou pela cabeça de Cielo, certamente, posso apostar, estavam impressos seus sacrifícios, a falta de apoio que é dada aos nossos atletas e a tristeza de viver numa terra que judia tanto de seus filhos.


Não, eu não tenho o direito de politizar, digamos assim, a vitória de César Cielo, nem suas emoções externadas, mas, posso, sim, interpreta-las à luz desse ponto de vista, que é o meu e não necessariamente o dele. Vai dizer que ninguém enxergou, nem minimamente, isso que eu vi...


Assistam ao vídeo com a vitória de Cielo, vale a pena:


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